segunda-feira, 18 de outubro de 2010

a mão do semeador, de vergilio ferreira


Quando entrei no quarto, aquele cheiro nauseabundo quase me soltou o vómito. Não sabia o que fazer, mas o desaparecimento dela justificava que estivesse lá entrado. Ao meu redor, tudo estava espalhado em desordem, como se um furacão tivesse agitado as areias daquela praia.
Aproximei-me da desordem e entre a roupa que encobria o gavetão encontrei um fio, que não o abandonaria sabendo que ia estar sempre com ela.
Peguei nele e encostei-o contra o meu peito.
Subitamente, espreitei para aquele recanto de onde saia uma luz ténue. Havia uma massa indefinida no chão. Aproximei-me cautelosamente.
Era ela! Uma forte dor me tocou no coração e caiu de joelhos junto dela. Toque-lhe. Senti um frio enorme comecei a tremer. Percebi que tinha morrido de desespero, eu jamais queria que isto tivesse acontecido. Uma vez que a amo nunca irei desistir. Uma lágrima caiu no rosto dela transformando-se em sangue.
É por tudo isto que ainda hoje penso que nunca estamos bem. A vida é um oceano de atribulações; umas vezes resistimos-lhe, outras naufragamos.